segunda-feira, 28 de maio de 2012

Como Serei Lembrado?


                A semana passada foi peculiar para mim.  Uma tia muito querida faleceu aos 80 anos e como seria sepultada no mesmo túmulo que meu avô, alguém da família teria que acompanhar a exumação do cadáver de seu corpo.  Devido às circunstâncias, fui eu a eleita para acompanhar o ato. 

                Quando abriram o caixão me surpreendi com o estado das roupas de meu avô.  Elas estavam intactas após 13 anos debaixo da terra.  Seu terno e gravata azuis e sua camisa branca estavam sujos, mas perfeitamente envolviam seu esqueleto, como no dia em que o enterramos.  Refleti em como somos efêmeros.  Após a morte até nossas roupas duram mais do que este invólucro, que chamamos de corpo. Incrível é que estamos na era da aparência e investimos tanto recurso emocional, temporal e financeiro para mantermos um corpo jovem e sarado!  Não estou fazendo alusão ao desleixo; devemos buscar uma vida saudável e manter uma aparência agradável, mas me refiro a nossas  motivações, prioridades, exageros.

                Logo em seguida seus ossos começaram a ser colocados dentro de uma caixa.  Obviamente não desejo esta experiência  a ninguém, mas envolvida pelo silêncio e aquela cena inusitada, à medida em que seus pedaços iam sendo colocados no recipiente, me emocionava... Ao ver seu crânio pensei em quantas boas ideias e palavras de sabedoria já tinham saído daquela mente, em quantas histórias marcantes meu avô já me contou, o quanto aqueles ouvidos ouviram meus risos, palavras e meu choro.  Ao recolher os ossos de seus braços, me lembrei dos seus abraços, do balanço de madeira que aquelas mãos construíram para eu brincar, dos carinhos e coceguinhas que recebi.  Ao retirarem seu fêmur, recordei-me do colo, me vi brincando de escorregador por sobre aquelas pernas.  Concluí que é isso que fica quando a gente se vai:  Nosso amor palpável, tangível.  Meu avô é sem dúvida uma das maiores referências na minha vida, não pelos bens que  deixou  ou pelo quanto trabalhou ou estudou, mas por sua coerência, integridade e amor.  Todos os dias pela manhã, impreterivelmente abria a Bíblia comigo,  com minha avó e com quem mais estivesse em sua casa, ensinava princípios de vida, de ética, de caráter, histórias inspiradoras, fazia uma oração abençoando o nosso dia e depois eu poderia brincar, ver TV ou fazer qualquer outra coisa.  Disso eu não esqueço, jamais.

                Me lembrei que o amor pode sim ser medido, cheirado, percebido, sentido por nossos abraços, pela quantidade de beijos, elogios, palavras de afirmação que repartimos, pelo colo, ombro amigo, pelo compromisso que temos com as pessoas.  Se eu era conhecida como "o rabinho do vô", aquela que até quando ele ia ao banheiro ficava esperando do lado de fora da porta, é por que estar ao seu lado me engrandecia, me agradava, eu me sentia amada e importante.

                Tudo isso me trouxe algumas perguntas:  Por que vivemos a nossa vida como se não fossemos morrer?  Será que tenho dado todos os beijos e abraços que devo?  Será que se a morte me surpreendesse  levando a mim ou a alguém que amo muito, a sensação seria de dever cumprido ou me arrependeria de ter me apegado a queixas irrelevantes? Teria eu administrado meu tempo com sabedoria ou  me arrependeria dos jogos que não fiz com meus filhos por que estava cansada demais, das noites que não tive com meu amado por picuinhas que no fundo nem tinham relevância? Teria eu elogiado as atitudes que admirei?  Dito aos meus familiares e amigos o quanto são importantes para mim?  Por que no fim de tudo, o que é que vai permanecer?  Pelo que seremos lembrados?

                Me lembrei de Mário Sérgio Cortella dizendo que a vida é muito curta para a apequenarmos.  Qual será o seu legado?  O que escreverão no seu epitáfio?

                Eu quero viver uma vida que vale a pena ser vivida e que vai deixar memórias, boas memórias.

Sara Vargas

Personsal & Professional Coach
Consultoria Familiar
Especialista em Terapia Familiar Sistêmica
Palestras, Seminários e Projetos Sócioeducativos



                           


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