A
semana passada foi peculiar para mim.
Uma tia muito querida faleceu aos 80 anos e como seria sepultada no
mesmo túmulo que meu avô, alguém da família teria que acompanhar a exumação do
cadáver de seu corpo. Devido às
circunstâncias, fui eu a eleita para acompanhar o ato.

Logo
em seguida seus ossos começaram a ser colocados dentro de uma caixa. Obviamente não desejo esta experiência a ninguém, mas envolvida pelo silêncio e aquela
cena inusitada, à medida em que seus pedaços iam sendo colocados no recipiente,
me emocionava... Ao ver seu crânio pensei em quantas boas ideias e palavras de
sabedoria já tinham saído daquela mente, em quantas histórias marcantes meu avô
já me contou, o quanto aqueles ouvidos ouviram meus risos, palavras e meu
choro. Ao recolher os ossos de seus
braços, me lembrei dos seus abraços, do balanço de madeira que aquelas mãos
construíram para eu brincar, dos carinhos e coceguinhas que recebi. Ao retirarem seu fêmur, recordei-me do colo,
me vi brincando de escorregador por sobre aquelas pernas. Concluí que é isso que fica quando a gente se
vai: Nosso amor palpável, tangível. Meu avô é sem dúvida uma das maiores
referências na minha vida, não pelos bens que
deixou ou pelo quanto trabalhou
ou estudou, mas por sua coerência, integridade e amor. Todos os dias pela manhã, impreterivelmente
abria a Bíblia comigo, com minha avó e
com quem mais estivesse em sua casa, ensinava princípios de vida, de ética, de
caráter, histórias inspiradoras, fazia uma oração abençoando o nosso dia e
depois eu poderia brincar, ver TV ou fazer qualquer outra coisa. Disso eu não esqueço, jamais.
Me
lembrei que o amor pode sim ser medido, cheirado, percebido, sentido por nossos
abraços, pela quantidade de beijos, elogios, palavras de afirmação que repartimos,
pelo colo, ombro amigo, pelo compromisso que temos com as pessoas. Se eu era conhecida como "o rabinho do
vô", aquela que até quando ele ia ao banheiro ficava esperando do lado de
fora da porta, é por que estar ao seu lado me engrandecia, me agradava, eu me
sentia amada e importante.
Tudo
isso me trouxe algumas perguntas: Por
que vivemos a nossa vida como se não fossemos morrer? Será que tenho dado todos os beijos e abraços
que devo? Será que se a morte me
surpreendesse levando a mim ou a alguém
que amo muito, a sensação seria de dever cumprido ou me arrependeria de ter me
apegado a queixas irrelevantes? Teria eu administrado meu tempo com sabedoria
ou me arrependeria dos jogos que não fiz
com meus filhos por que estava cansada demais, das noites que não tive com meu
amado por picuinhas que no fundo nem tinham relevância? Teria eu elogiado as
atitudes que admirei? Dito aos meus
familiares e amigos o quanto são importantes para mim? Por que no fim de tudo, o que é que vai
permanecer? Pelo que seremos lembrados?
Me
lembrei de Mário Sérgio Cortella dizendo que a vida é muito curta para a apequenarmos. Qual será o seu legado? O que escreverão no seu epitáfio?
Eu
quero viver uma vida que vale a pena ser vivida e que vai deixar memórias, boas
memórias.
Sara Vargas
Personsal & Professional Coach
Consultoria Familiar
Especialista em Terapia Familiar Sistêmica
Palestras, Seminários e Projetos Sócioeducativos

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